(Continuação do texto “Depressão e terapias”)
Para mim, aquela tristeza profunda e outros sintomas perturbadores que eu tivera na adolescência estavam relacionados apenas a uma infelicidade resultante de problemas familiares. Algo como uma crise existencial, baseada em fatores como baixa autoestima, insegurança, timidez, mágoas e traumas. Logo, raciocinava eu, era só superar aqueles problemas emocionais, com a ajuda de psicoterapia e de Deus, para resolver o problema. E realmente funcionou (pelo menos por um tempo). A psicoterapia me ajudou a pôr pra fora toda aquela carga emocional negativa, que me sufocava, e a comunhão pessoal com Deus me capacitou a perdoar e recomeçar. Pela primeira vez na vida, eu experimentava a verdadeira alegria, a paz “que excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7). Quando a tristeza ou as mágoas voltavam a me assediar, eu simplesmente reforçava o estudo da Palavra e as orações diárias, e logo estava bem.
Foram alguns anos de trégua, até que, no momento mais improvável da minha vida, ela ressurge, indômita. Lá estava eu… casada, realizada, feliz, finalmente num ambiente propício à paz e alegria e, ao mesmo tempo, terrivelmente triste e desanimada. E, dessa vez, com um agravante: sem a força de vontade e persistência marcantes, herdadas do meu pai. Como era possível eu, sempre tão ativa, trabalhadora e responsável, de repente não ter força sequer para levantar da cama, comer e trabalhar?
Lembro bem a primeira vez em que meu marido voltou para casa correndo no meio do expediente simplesmente para me ajudar a sair da cama. Era como se, entre mim e ela, houvesse uma poderosa força magnética. Não foi sem muita resistência e choro da minha parte que meu amado marido, leigo e inexperiente no assunto, me desarraigou da cama. Com amor, paciência e sabedoria peculiar, emprestou-me a força que eu não tinha, me ergueu, me vestiu e me conduziu em uma breve caminhada naquele dia ensolarado em São Paulo. Aos poucos, com a ajuda do sol, do ar e do exercício físico, o choro inexplicável e incontrolável foi diminuindo, e a disposição, aumentando. Só alguns anos depois, eu entenderia, de fato, a íntima relação entre esses elementos naturais e a depressão, entre o corpo e a mente. Até lá, por inúmeras vezes, meu marido ainda teria que enfrentar muito choro e resistência, surpreender-se várias vezes com a ausência de almoço ao voltar faminto para casa, fazer ele mesmo a comida que eu não conseguira fazer, largar o trabalho para me socorrer, ser dona de casa, mãe, psicólogo, enfermeiro… Agradeço a Deus porque, nestes 11 anos, ele realmente esteve comigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Seu amor e apoio foram fundamentais durante todo esse longo processo.
E se você está gostando deste conteúdo, com certeza vai gostar do nosso ebook "Guia da Proteína Vegetal", feito para você que busca ter uma alimentação mais saudável, deseja reduzir o consumo de carne ou mesmo quer se tornar vegetariano. Faça o download gratuito >>clicando aqui<<
Imagine quanto tempo perdido, quanto sofrimento, quanta dor, para mim e meu marido (e futuramente também para minha filha, que seria protagonista no pior de todos os episódios de depressão)… simplesmente por não entender o mal que me acometia. Como diz o Dr. Neil Nedley, cujo livro me levou à cura, “a má compreensão da depressão pode se tornar uma das nossas maiores ameaças” (2010, p. 12). Quantas pessoas definhando por causa de um estigma que se criou em torno dessa doença. Lembro da vergonha que eu tinha de compartilhar meu sofrimento por medo de ser injustamente tachada de infeliz, incrédula, fraca, preguiçosa e outros adjetivos preconceituosos. Eu podia não saber exatamente o que era depressão, mas, apesar de muitas vezes eu mesma duvidar, lá no fundo eu sabia o que ela não era (pelo menos no meu caso): não era infelicidade, nem falta de fé, nem fraqueza, nem preguiça. Eu estava feliz com minha nova vida de casada, nunca estivera tão próxima de Deus e sempre fora admirada pelas pessoas mais íntimas por minha garra. Se depressão não era necessariamente tristeza ou infelicidade, o que era então? A resposta a essa pergunta era a chave para a minha cura…
Referência
NEDLEY, Neil. Como sair da depressão. Tatuí: Casa, 2010.